CURSO DE IMPLANTOLOGIA E REABILITAÇÂO ORAL
European Implantology Center
Centro Europeu de Pós Graduação – Medicina Dentária
FACTORES DE RISCO E COMPLICAÇÕES EM IMPLANTOLOGIA
Indice
Introdução. 3
Factores de Risco. 4
Factores de Risco Gerais. 4
Factores de Risco Estéticos. 21
Factores de Risco Biomecânicos. 28
Complicações. 41
Conclusão. 47
Bibliografia. 48
Introdução
Em todos os procedimentos clínicos que interferem com o corpo humano está presente um elemento de risco. O tratamento com implantes dentários evoluiu bastante nos últimos anos, tornando-se uma solução de reabilitação a que o médico dentista recorre com frequência. Contudo, os seus potenciais benefícios e as altas taxas de sucesso levaram a que o procedimento fosse muitas vezes utilizado incorrectamente, com consequências indesejáveis.
O tratamento não deve ser baseado na esperança, que seja do paciente quer do médico dentista, mas sim em informação precisa, conhecimento dos problemas do paciente, reconhecimento de alternativas de tratamento viáveis, e selecção do melhor meio de tratamento do edentulismo do paciente.
Por outro lado, o tratamento com implantes dentários pode ser um processo bastante complexo no que toca ao planeamento, execução e resolução dos problemas subsequentes. Apesar das altas taxas de sucesso da técnica, as complicações existem e é preferível preveni- las conhecendo os factores de risco inerentes a cada caso, do que resolvê-las no fim de instaladas.
Com o presente trabalho pretende-se, numa primeira parte, abordar os principais factores de risco inerentes à colocação de implantes, enumerando-os e descrevendo-os. Numa segunda parte, de uma maneira mais resumida, encontraremos as complicações que podem decorrer de uma cirurgia de implantes.
FACTORES DE RISCO
Factores de Risco Gerais
História Clínica
O objectivo da história clínica do paciente é descobrir se há alguma contra-indicação absoluta ou relativa, antes de começar a reabilitação oral com implantes.
Exame Geral
Saúde Geral
Contra-indicaçoes médicas absolutas para a realização de implantes são raras. O risco de infecção num implante osteointegrado é muito baixo. No entanto, uma cirurgia de implantes apresenta as mesmas contra-indicaçoes de qualquer cirurgia óssea, sendo necessário ter em atenção as patologias do paciente.
Pacientes com patologias gerais tais como diabetes e anemia, devem ser tratados por uma equipa de médicos bem treinada e ciente dos riscos que correm, sob condiçoes que respeitem o protocolo cirúrgico e acima de tudo a assepsia. Notoriamente, o tabaco aumenta em 10% o risco de falha de um implante e é contra-indicação para regeneração óssea e enxerto ósseo.
Idade
A idade é contra-indlcação para pacientes jovens que ainda não termlnaram o crescimento. Assim, só por volta dos 16 anos para as mulheres e dos 18 anos para os homens é que é possível colocar implantes. Caso contrario, uma vez que o implante não tem processo alveolar, não vai acompanhar o crescimento da maxila e da mandíbula e dos dentes vizinhos, resultando numa falha estética e funcional indesej ável.
Não há uma idade llmite que contra-indique a colocação de implantes, no entanto sabe-se que pacientes mais velhos poderão ter patologias gerais impeditivas da reabilitação por implantes.
Motivaçăo do paciente
A informaçăo existente para o paciente nos meios de comunicaçăo como revistas e televisäo poderăo iludir o paciente em relaçăo a resultados estéticos que poderăo näo ser possíveis de obter através da colocaçăo de implantes. Muîtas vezes os implantes estão associados a uma ideia de tratamento estético. É necessário ter em atençäo as expectatlvas do paciente e informá-lo acerca do que pode esperar do tratamento, evitando assim exigęncias estéticas irrealistas.
Quanto mais altas forem as expectativas em relaçăo ao tratamento mais estreito se torna o compromisso do paciente durante o tratamento para que seja cooperante e esteja ciente das dificuldades, limitaçöes e duraçăo do tratamento.
Disponibilidade
A disponibilidade do paciente é também um factor importante a avaliar antes da realização de certos tratamentos. Este factor é muitas vezes menosprezado mas se o paciente for sujeito, por exemplo, a uma regeneração óssea guiada, é necessário a cada 3 semanas verificar se a membrana não está exposta.
Assim, para pacientes que estão sempre ocupados e indisponlveis para se deslocar ao consultório durante os meses de cicatrização, este tipo de tratamento está contra-indicado.
Etiologia do Edentulismo
Muitos pacientes chegam ao consultório com espaços edçntulos para colocação de implantes sem que o médico dentista conheça a história clínica que levou ao desaparecimento
das peças dentárias. No entanto, a etilogia do edentulismo é um factor importantíssimo e nào pode ser descurado.
Se a causa de perda dentária for cárie, acidente ou trauma, o risco inerente í colocação de implantes será muito reduzido.
Se a causa for doença periodontal é necessário eliminar os factores etiológicos da doença antes de partir para a colocação de implantes. Alguns pacientes são considerados de risco moderado ou reduzido e presença de doença periodontal pode não influenciar o processo de osteointegração do Implante.
No entanto, a bactéria patogénica presente nas bolsas periodontais em volta do dente pode infectar o tecido peri-implantar e levando a mucosite (inflamação do tecido mole em volta do implante) ou periimplantite (infecção e perda óssea em redor do implante).
Se o edentulismo provir de um desarranjo oclusal severo ou bruxismo, o risco de falha é bastante elevado.r
O tratamento através de implantes em pacientes destes não deve ser proposto, a nào ser que possam ser colocados implantes suficientes para distribuir as fortes cargas oclusais.
Exame Intraoral
Abertura Bucal
A primeira coisa a fazer antes do exame intraoral é examinar a abertura bucal. A largura de 3 dedos corresponde a aproximadamente 45 mm, o que se pode considerar uma abertura ideal.
Se a largura for de dois dedos ou inferior, não é contra-indicado o tratamento por implantes na zona posterior.
Higiene
A avaliação da higiene oral do paciente não é importante para o tratamento por implantes por si só. No entanto, é necessário ter atenção aos pacientes que perderam os seus dentes há muito tempo. Este tipo de pacientes muitas vezes já esqueceu técnicas de escovagem e de boa higienização dentária. Assim, deve ter-se o cuidado de reeducar os
hábitos de higiene do paciente proposto para implantes. Muitas vezes pode ser necessário adoptar so1uçoes mais simples no plano de tratamento, tais como uma sobre dentadura mesmo que haja um volume ósseo considerável.
Presença de lesões
A presença de qualquer infecção aguda é uma contra-indicação temporária mas absoluta para a colocação de um implante. A cirurgia de implantes não deve ser realizada até que a lesão seja tratada e esteja completamente curada. O médico dentista deve ter cuidado em pacientes com lesoes na mucosa. Uma consulta com o dermatologista pode ser necessária.
Palpação intraoral
A palpação intra-oral deve ser usada para avallar o seguinte:
A espessura da crista mesmo que a medição seja imprecisa detectam-se muitas vezes bordos afilados como lâmina de faca, nos quais pode ser necessário fazer expansão óssea para colocar os implantes.
A profundidade do vestíbulo—um vestíbulo curto normalmente é devido a uma grande reabsorção óssea. Uma redução progressiva no crista óssea leva a uma diminuição na profundidade do vestíbulo, o que representa um rlsco para a saúde do tecido peri-implantar. Devido r ligação do músculo bucinador, um enxerto gengival nesta zona nem sempre é possível. Nestas situaçoes a estética pode ficar comprometida e a higiene pode ser problemática para o paciente.
Uma prótese com pilares mais altos pode ser uma boa solução em casos de pouca altura do vestíbulo.
Concavidade vestibular perto do sítio do implante — quando há uma concavidade na zona estética pode ser necessário fazer enxerto ósseo para colocar o implante, uma vez que o implante deve ser colocado respeitando o eixo de inserção da coroa.
Parede do seio maxilar — a parede do seio complica muitas vezes a colocação de implantes na zona dos pré-molares.
Relação inter-arcos
Discrepâncias anteroposteriores ou laterais nas re1açoes maxilomandibulares podem levar a riscos protéticos. Biomecanicamente esta situação pode ser perigosa, principalmente se for combinada com outros factores de risco funcionais como bruxismo, por exemplo.
Relações oclusais desfavoráveis como as observadas nas figuras acima, representam um factor de risco funcional para a colocação de implantes.
Perda óssea vertical
da óssea verticalFrequentemente, a perda de um dente é seguida de uma perda óssea que pode ser ligeira ou significativa.
É necessário avaliar a discrepância entre o nlvel ósseo no local do implante e o nível ósseo do dente adjacente. Uma grande diferença representa um risco para a saúde e estética tanto para tecido periodontal como para o tecido peri-implantar.
Perante uma situação destas, o médico deve considerar uma reconstrução da crista com regeneração óssea ou enxerto, antes da colocação do implante.
Espaço entre a crista óssea e o dente oponente
A altura vertical entre a crista óssea e o dente oponente define a altura máxima da coroa do implante a reallzar. Se os dentes oponentes tiverem extruidos será de ponderar fazer intrusão ortodôntlca ou coroas para corrigir o plano oclusal antes da colocação do implante.
Distância inter-arco em abertura máxima
O acesso ao local do implante deve ser avaliado, mesmo que o paciente tenha uma boa abertura bucal. Um dente sobreeurupcionado pode lnterferir com os instrumentos e brocas de trabalho para a colocação de um implante. Pode ser necessário corrigir o plano oclusal antes de colocar o implante, para não correr o risco de uma má posição implantar, como se pode observar na figura.
Distância mesiodistal
É necessário avaliar a distancia mesiodistal entre dentes para colocar um implante. É necessário haver uma distancia entre implantes de pelo menos 7mm (centro a centro), entre a parede mesial do dente e a distal do implante devem haver pelo menos 3 mm para haver vascularização óssea.
Exame Radiográfico
Nas primeiras consultas, uma radiografia retroalveolar ou uma ortopantomografia é suficiente para avaliar a possibilidade de colocar implante.
O estudo destas radiografias serve para:
-
Verificar a possibilidade de colocar um implante pela observação da altura óssea, especialmente na zona do nervo alveolar inferior e do seio maxilar. Se a altura parecer ser suficiente é necessário fazer um TAC para ter a certeza da altura com maior precisão;
-
Determinar os riscos inerentes a uma reabsorção óssea vertical;
-
Pesquisar problemas ósseos:
-
Todas as infecçdes agudas devem ser tratadas antes de colocar os implantes
-
Lesoes crónicas (granuloma periapical) próximas da zona onde se pretende colocar o implante devem ser eliminadas e tratadas antes da colocação dos implantes
-
Lesoes crónicas longe da zona do implante (no arco oposto ou lado contralateral) podem ser resolvidas após a colocação dos implantes desde que o parafuso de cicatrização seja colocado debaixo da gengiva e não fique exposto na cavidade oral.
-
-
Avaliar o estado periodontal.
Controlo Periodontal
A avaliação periodontal representa um passo inevitável na avaliação pré-implantar. Inúmeros estudos demonstraram que os tecidos peri-implantares são susceptíveis a contaminação por bactérias provenientes das bolsas periodontais dos dentes adjacentes. Assim, é necessário assegurar a saúde dos tecidos periodontais antes da colocação dos implantes em boca.
Um protocolo de tratamento periimplantar é necessário para melhorar a qualidade da mucosa em redor do pilar do implante. É possível colocar os implantes após uma fase inicial de tratamento periodontal e avançar com o resto do tratamento na fase de osteointegração do implante, desde que estes estejam cobertos por gengiva.
Factores de Risco Estéticos
Factores de Risco Gengivais
Linha do sorriso
A linha do sorriso deve ser observada na primeira consulta. Frequentemente, uma prótese fixa sobre implantes não tem as mesmas possibilidades estéticas de uma prótese removível, principalmente se morfologia da crista óssea indica a necessidade de uma regeneração tecidular guiada, ou de enxerto ósseo.
Um paciente que necessita de lmplantes na zona anterior que mostre uma grande quantidade de gengiva enquanto sorri, é considerado como um paciente de risco, sob um ponto de vista estético.
Se for escolhida a solução por implantes, o paciente deve ser informado dos riscos estéticos associados r colocação do implante.
Biotipo gengival
Quanto mais espessa e fibrosa for a gengiva melhor será o resultado estético conseguido.
Uma gengiva muito fina é mais difícil de manipular e nem sempre mascara o corpo e o pilar do implante de metal. Uma boa altura da gengiva queratinizada também é desejável, não apenas pela saúde do tecido ao redor do implante como também para um melhor resultado estético.
Desfavorável
Nível da papila dos dentes adjacentes
A morfologia papilar dos dentes adjacentes é um factor importante a considerar. Quando a papila é longa e fina é difícil obter um resultado estético brilhante. Por outro lado, se a papila for curta e espessa, a sua regeneração natural é mais fácil de atingir.
Factores de Risco Ósseos
Parede vestibular
A presença de uma concavidade vestibular pode considerar-se um factor de risco estético. Pode ser necessário fazer regeneraçăo óssea ou enxerto ou o implante terá de ser colocado seguindo a crista óssea mas com um eixo desfavorável para a prótese.
Implantes adjacentes
Mesmo que a regeneraçăo papilar ocorra naturalmente junto aos dentes naturals, é difícil que ocorra entre dols implanted por causa da ausęncia de osso papilar (septo) entre os mesmos.
Espículas ósseas proximais
Uma radiografia retroalveolar revela a presença ou ausęncia de septo ósseo junto aos dentes adjacentes. É nestas espículas que a papila interproximal se pode formar. Quando os dentes dăo perdidos por trauma essas espículas podem ser reabsorvidas, como se pode ver na figura.
Factores de Risco do Paciente
Exigęncias estéticas
É importante identificar as exigęncias estéticas do paciente.
Nível de higiene
O paciente tern de ter uma higiene extremamente cuidada e um rigoroso controlo de placa bacteriana para que os resultados estéticos esperados sejam atingidos. A presença de uma inflamaçăo permanente, mesmo que ligeira, pode comprometer a qualidade e capacidade de cicatrizaçăoqda gengiva.
Provisionalização
A coroa provisória deve ser estável e permitir ao paciente um perfeito controle da placa bacteriana. Se for utillzada uma prótese provisória para esse fim, deve ser desenhada de maneira a evitar qualquer tipo de movimento que provoque instabilidade e carga oclusal na zona do implante. Pode ter que ser confeccionada uma rede em metal para evitar este tipo de problema.
Factores de Risco Biomecanicos
Factores de Risco Geométricos
Número de implantes inferior ao número de raízes dentárias
Para definir o número ideal de implantes numa determinada situaçăo clínica, năo é suficiente conslderar o número de dentes, mas sim o número de raízes a substituir. Por exemplo, um canino representa um suporte radicular enquanto que um molar representa dois ou tręs suportes radiculares.
Esta avaliaçăo é especialmente importante para próteses suportadas por menos de tręs implantes. Para restauraçöes suportadas por tręs ou mais implantes é possível usar menos implantes do que suportes radiculares sem aumentar o risco de sobrecarga oclusal.
Assim, um implante que substitua um molar suportado por duas ou tręs raízes, se for de plataforma regular representa um factor de risco elevado. Para reduzir o risco deve ser usado um implante com uma plataforma maior.
Risco biomecânico Situação favorável
Suportar duas ou mais raízes com dois implantes de plataforma regular representa um factor de risco médio. Este factor de risco é eliminado ao utilîzar implantes com uma plataforma maior.
O uso de implantes com uma plataforma maior providencia uma maior capacidade biomecânica para suportar cargas oclusais.
Implantes ligados a dentes naturais
Combinar dois sistemas com uma grande diferença em termos de rigidez (os dentes tęm uma mobilidade 10 vezes maior que os implantes) pode resultar numa disparldade de valores de carga suportada pelo dente e pelo implante. É considerado um factor de risco, sobretudo se combinado com falta de osso de suporte ou demasiada extensăo protética.
Se for escolhido este tipo de tratamento, as conexöes protéticas devem ser rígidas de maneira a impedlr movimentos dentários indesejados como lntrusăo dentária que se pode ver nas figuras.
Tripoidismo
Posicionar os implantes numa linha direita numa restauração posterior permite forças laterais que prejudicam a instabilidade primária dos implantes. Se os implantes forem posicionados de acordo com o tripoidismo estas forças laterais, numa extensão maior, serão contrabalanceadas pelas forças axiais.
Para uma prótese total sobre implantes é muito importante que se respeite o tripoidismo na colocação dos implantes. A colocação dos implantes em linha representa um risco muito grande de sobrecarga, por isso os implantes devem ser espalhados ao longo do rebordo alveolar.
Extensăo protética
Numa situaçăo clínica, um cantilever aumenta consideravelmente a carga oclusal nos implantes. É de todo de evitar fazer este tipo de tratamento, pois pode até ocorrer fractura do implante, como se vę na figura abaixo.
Implantes colocados fora do eixo da prótese
Se o eixo do implante é colocado a uma distancia do centro da coroa protética, há o risco de o braço de alavanca do ponto de contacto oclusal ao eixo do implante leve a um desapertamento do parafuso ou fractura dos componentes. Contudo, se essa distancia é parte de um tratamento de tripoidismo, pode ser favorável.
Altura excessiva da coroa
Quando a altura do pilar protético e da coroa é significativamente elevado em relação ao tamanho do implante, a força do braço de alavanca em relaç’ao r cabeça do implante é aumentada. Se sofrerem forças laterais há um risco elevado de desaparafusamento ou fractura dos componentes.
Factores de Risco Oclusais
Bruxismo e parafuncçöes
A etiologia da perda dos dentes é uma boa maneira de avaliar o estado oclusal do paciente. Tanto a intensidade das forças oclusais como os hábitos parfunclonais podem ter um efeito negativo considerável na estabilidade dos componentes dos implantes. O risco é elevado se as forças näo forem transmitidas ao eixo do implante.
Um paciente bruxomano ou um paciente que perdeu os dentes devido a fractura, é considerado de alto risco. As coroas sobre implantes devem ser reforçadas através de um suporte optimizado, de maneira a compensar a carga oclusal excessiva. É crucial utilizar os componentes protéticos apropriados.
Contactos oclusais laterais apenas na coroa do implante
0s dentes naturais, “suspensos” no ligamento periodontal, tęm mobilidade fisiolágica e capacidade para ser movimentados ortodonticamente. Pelo contrario, os implantes săo rígidos e fixos ao osso, sem ligamento periodontal. Consequentemente, há o risco dos implantes receberem mais carga do que os dentes.
Para compensar este risco é importante que a reabilitação protétlca seja desenhada de maneira a respeitar determinados princípios: contacto oclusal na fossa central, pouca inclinação das cúspides e uma mesa oclusal de dimensão reduzida.
Contactos oclusais laterais essencialmente nos dentes adjacentes
Eliminar os contactos laterais em próteses implanto-suportadas constitui uma situação mais favorável. As capacidades proprioceptivas dos dentes adjacentes podem também ajudar a reduzir a carga aplicada, particularmente durante movimentos excessivos da mandíbula.
Factores de Risco Ósseos e Implantares
Após a cirurgia é importante avaliar a qualidade de ancoragem de cada implante. Dessa forma é possível determinar o tempo que se deve aguardar para colocar os implantes em carga e a carga que cada implante poderá suportar.
Dependęncia da neoformaçäo óssea em detrimento da falta de estabilidade primária
Se a estabilidade primária do implante năo for satisfatória, o tempo ate r colocaçäo da coroa deverá ser estendido e o implante deve ser protegido de demasiada carga no inicio de funçăo. A ausęncia de uma boa estabilidade primária deve ser considerado factor de risco apenas no primeiro ano de função.
Diămetro do implante menor que o desejado
Implantes com diâmetros pequenos tęm menor capacidade para suportar forças de flexäo do que implantes com diâmetros maiores. Na regiăo posterior implantes com menos de 4mm năo devem ser utilizados.
Risco Favorável
Factores de Risco Tecnológicos
Falta de adaptação protética
Estudos sobre próteses totais suportadas por implantes demonstram que existe frequentemente falta de adaptação entre a prótese e os implantes. Este factor, por si só não constitui um factor de risco porque normalmente há mais do que implantes suficientes a suportar as próteses totais.
Em próteses mais curtas na região posterior, onde cada implante tem um valor estratégico, a falta de aperto do pilar ou de adaptação protética, pode dar origem a comp1icaçoes. Assim, se o enroscamento e a precisão protética na região posterior não forem bem controlados, pode-se considerar esta sltuação como factor de risco.
Prótese cimentada
Se o pilar sobre o implante for receber uma coroa cimentada é muito importante que tenha sido perfeitamente aparafusado com uma chave de controlo de torque e tenha alta
estabilidade. Se estes pressupostos não forem cumpridos, esta situação representa um factor de risco porque é complicado voltar a apertar o pilar protético no fim da coroa estar cimentada.
É preferível usar uma coroa aparafusada quando a situação for de risco. Os sinais de alarme são mais fáceis de detectar e as complicaçdes mais fáceis de resolver se alguma coisa falhar.
Sinais de Alarme
Os sistemas de implantes do mercado estão desenhados de maneira a suportar carga virtualmente em qualquer situação clínica, partindo do princípio que o planeamento e o protocolo de tratamento seja respeitado. No entanto, se houver uma sobrecarga, existem sinais de alarme que ocorrem antes que a complicação leve a uma falha.
Como sinais de alarme principais temos:
-
Repetido desaparafusamento dos componentes protéticos;
-
Repetida fractura do material das coroas (resina ou cerâmica);
-
Fractura dos pilares protéticos;
-
Reabsorção óssea abaixo da primeira espira do implante.
É lmportante estar atento a estes sinais e assim que detectados agir consoante o sinal de alarme presente. Quando o pilar estiver desaparafusado ou fracturado, pode não ser suficiente substitulr ou apertar o componente, a causa deve ser identificada e ellminada. Se o tratamento for descurado, a situação pode repetir-se e levar a uma complicação e falha do implante. Assim, sempre que um sinal de alarme estiver presente, é importante rever os factores de risco biomecânicos com o objectivo de modificar a situação e reduzir ou eliminar factores de risco excessivos. Por exemplo pode ser necessário eliminar cantileveres, corrigir a oclusão ou até inserir implantes extra para solucionar o problema.
COMPLICAÇÕES
Qualquer forma de tratamento dentário näo está imune a uma possível falha. No entanto, quando o tratamento é complexo quer na concepção quer na execuçäo, a probabilidade de surgirem problemas aumenta.
A falha de um implante define-se como uma falha total de um implante no que toca r sua finalidade em boca (funcional, estética ou fonética) por razões médicas ou biomecânicas. Contudo, complicações podem surgir sendo por vezes reversíveis. As complicações de um tratamento podem ir desde fractura dos componentes protéticos a uma inflamação transitória.
Nos quadros seguintes podemos observar resumîdamente as complicações dos vários estágios clrúrgicos e protéticos de um implante bem como as suas possíveis causas e soluções.
Primeiro estágio cirúrgico
Problema |
Possíveis Causas |
Solução |
Hemorragia durante a preparação do leito implantar |
Lesmo de uma artéria |
A colocação do implante pára o sangramento |
Mobilidade do implante após colocação |
Osso esponjoso Preparação imprecisa |
Retirar o implante e colocar um com maior diâmetro. Se a mobilidade for pequena prolongar o período de osteointegração |
Exposição das espiras do implante |
Crista óssea muito pequena |
Cobrir as espiral com bio-osso, coágulo ou membrana |
Inchado lingual na slnfise mandibular imediatamente após colocação do implante |
Incisão de um ramo da artéria subllngual |
Emergência: enviar o paciente para o hospital para coagulação sob anestesia geral |
Dor pós-operatória significativa que se mantém por alguns dias |
Osteite devida a uma preparação demasiado agressiva ou contaminação bacteriológica |
Remover o implante afectado |
Falta de sensibilidade do lábio inferior |
Incisão ou compressão do nervo mandibular |
Se o problema persistir após uma semana realizar um TC para ver qual o implante que causa o problema e removê-lo |
Exposição do parafuso de cobertura após algumas semanas |
Parafuso colocado muito acima Mucosa fina Pressão da prótese provisória |
Não tentar reapertar o parafuso, prescrever maior cuidado na higiene oral Evitar a prótese provisória |
Abcesso r volta do parafuso de cobertura após algumas semanas |
O implante não está a osteointegrar Infecção em volta do parafuso |
Retlrar o implante Retalho, remover tecido de granulação, desinfectar e substituir o parafuso |
Segundo estágio cirúrgico
Problema |
Possíveis causas |
Solução |
Llgeira sensibilidade mas implante perfeitamente imóvel |
Osteointegração imperfeita |
Cobrir o implante por dois ou três meses e testar novamente |
Ligeiramente doloroso e implante com mobilidade |
Ausência de osteointegração |
Remover o implante |
Dificuldade em inserir o transfer do implante ou parafuso de cicatrização |
Rosca interior do implante ou do parafuso danificada |
Mudar o componente |
Incapacidade de adaptar o pilar ao implante |
ESpaço lnsuficiente (invasão do osso) |
Anestesiar, remover o osso r volta da rosca e recolocar o pilar. |
Tecido de granulação r volta da cabeça do implante |
Colocação traumática do implante; compressão da prótese provisória |
Abrir a área e desinfectar com clorohexidina. Se a lesmo for muito grande considerar regeneração óssea |
Procedimento protético
Controlo após colocação das coroas
Problema |
Possíveis Causas |
Solução |
Dor ou desconforto durante o aperto do parafuso da coroa |
Falta de adaptação entre o pilar e a coroa |
Cortar a prótese, enviar para o laboratório para compor e recolocar novamente a coroa bem adaptada |
Desaparafusamento de um ou mais parafusos protéticos logo na primeira avaliação de duas semanas |
Problema oclusal |
Reapertar, verificar a oclusão e avaliar passadas duas semanas |
Desaparafusamento do parafusos protéticos na segunda avaliação ou mais tarde |
Problema oclusal Demasiada extensão Conceito protético desfavorável |
Verificar a oclusão Diminuir a extensão Alterar o desenho protético (se necessário adicionar um implante) Em todos os casos, trocar os parafusos protéticos |
Abcesso junto do implante |
Má adaptação entre o implante e o pilar |
Verificar a adaptação do pilar com uma radiografia. Retirar o pilar, esterilizá-lo, remover o tecido de granulação, desinfectar com clorohexidina e voltar a colocar no implante |
Dor desenvolvida após colocação da prótese ou coroa |
Desintegração do implante Infecção peri-implantar |
Remover o implante Tratar a infecção. |
y Center
Fractura de um parafuso do pllar ou parafuso protétíco |
Problema oclusal, falta de adaptação entre o pilar e a prótese, desenho protético desfavorável |
Se a oclusão e a adaptação da prótese parecer correcta, modificar o desenho da prótese (reduzir ou eliminar extensões, adicionar implantes, reduzir o tamanho das mesas oclusais, reduzir inclinação das cúspides, etc.) |
Fractura do material das coroas |
Problema oclusal Bruxismo ou parafunçoes |
Verificar a oclusão Fazer uma gotelra de protecção |
Fractura do metal da prótese |
Fraca rede de metal ou demasiada extensão Bruxismo ou parafunçoes |
Refazer a prótese (reduzir ou eliminar extensões, adicionar implantes, reduzir o tamanho das mesas oclusais, reduzir inclinação das cúspides, etc.) Fazer uma goteira de protecção |
Fractura do implante |
Sobrecarga oclusal |
Remover o implante com uma broca trephina, esperar entre 2 a 6 meses se possível e colocar um implante maior. Rever o desenho protético (colocar mais implantes, etc.) e refazer a prótese. |
a)Perda óssea continua ã volta de um ou mais implantes |
Infecção (peri-implantite) |
Remover os factores etiológicos (controlo da placa bacteriana, geometria da prótese em relação à mucosa, etc.). Verificar as bolsas periodontais dos dentes adjacentes. Fazer um teste bacteriológico. Retirar lesoes existentes. Reajustar os tecidos periodontais (enxerto gengival). Considerar um processo de regeneração óssea. |
-
b)Perda óssea continua à volta de um ou mais implantes
Sobrecarga oclusal
Refazer a prótese (reduzir ou eliminar extensões, adicionar implantes, reduzir o tamanho das mesas oclusais, reduzir inclinação das cúspides, etc.)
Transparência do pilar do
implante através da mucosa
Fazer um enxerto de tecido
conectivo por dentro da mucosa. Mudar o pilar metálico para um cerâmico ou de zlrcónio.
Problemas fonéticos substanciais
que não desaparecem após dois ou três meses
Fechar o espaço entre implantes.
Fazer uma prótese genglvãl removível
Substituir a prótese fixa por uma
prótese removível implanto- suportada
Sangramento à sondagem
Mucosite ou Peri-implantite
Remover os factores etiológicos
(controlo da placa bacteriana, geometria da prótese em relação à mucosa, etc.). Verificar as bolsas periodontais dos dentes adjacentes.
Fazer um teste bacteriológico. Retirar lesdes existentes. Reajustar os tecidos periodontais (enxerto gengival). Considerar um processo de regeneração óssea.
-
Conclusão
Como se viu ao longo deste trabalho, a implantologia é uma área da medicina dentária que deve ser cuidadosamente estudada antes de partir para qualquer tratamento.
É muito importante conhecer toda a história clínica do paciente, em todos os seus parâmetros, e que se reúnam todas as informações necessárias, calculando o risco benefício da colocação de implantes. Os factores de risco presentes neste trabalho tem um peso na decisão clínica de reabilitação oral, sendo certo que uns assumem maior peso do que outros.
É também de frisar que apesar de todos os cuidados no planeamento e execução da cirurgia implantar e da reabilitação protética, os problemas podem surgir e é necessário conhecer as suas possíveis causas e soluções, como vimos na parte final deste trabalho.
Ainda assim, apesar de todos os factores de risco e complicações, a implantologia continua a ser uma disciplina de excelência e com grandes taxas de sucesso, uma vez que o implantologista é conhecedor dos riscos que corre e consegue escolher a melhor opção de tratamento para um determinado caso.
Bibliografia
Amoux JP, Weisgold AS, Lu 1. Single-tooth anterior implant. A word of caution. Part I. J Esthet Dent 1997;9:225-233.
Ascary ABD El Salam. Fundamentals oflmplannt Dentistry. Blackwell Munskgaard.
Bain CA. Smoking and implant failure: Benefits of u smoking cessation protocol. Int I Oral Maxillofac Implants 1996;11:756-759.
Bragger U, Burgin WB, Hammerle CHF, Lang NP. Association between clinical parameters assessed around implants and teeth. Clin Oral Implants Res 1997;8:412-421.
Brugnolo E, Mazzano C, Cordioli G, Majzoub Z. Clinical and radiographic findings following placement of single-tooth implants in young patients. Case reports. Int J Periodont
Rest Dent l99ó;16:421-433.
Dao TTT, Anderson D, Zarb GA. Is osteoporosis a risk factor for osseointegration of dental implants’? Int J Oral Maxillofac Implants 1993;8:137-143.
De Bruyn H, Collaert B. The effect of smoking on eurly failure. Clin Oral Implants Res l994;5:260-264.
Etienne D, Sanz M, Aroca S, Barbieri B, Ohayoun IP. Identification of risk patients in oral implantology. Part 2. J Parodontol Implant Orale 1998;3:273-297.
Gouvoussis 1, Doungkamol S, Yeung S. Cross-infection from periodontitis sites to failing implant sites in the same mouth. Int 1 Oral Maxillofac Implants 1997;12:666-673.
Hobkirk John A, Watson Roger M, Seardon Lloyd I J. Introducing Dental Implants. Churchil LlVingstone.
Jemt T. Regeneration of gingival papilla after single-implant treatment. Int I Periodont Rest Dent 1997;17:327-333.
Lewis S. Treatment planning: Teeth versus implante. Int J Periodont Rest Dent 1996;16:367- 377.
Palacci P, Ericsson I, Engstrand P, Rangert B. Optimal Implant Positioning and Soft Tissue Management for the Branemark System. Chicago: Quintessence, 1995.
Salama H, Salama M, Garber D, Adar P. Developing optimal peri-implant papillae within the esthetic zone. Guided soft tissue augmentation. I Esthet Dent 1995;7:125-129.
Smith RA, Berger R, Dodson TB. Risk factors associated with dental implants in healthy and medically compromised patients. Int J Oral Maxillofac Implants 1992;7:367-372.
Tarnow DP, Magner AW, Fletcher P. The effect of the dis- tance from the contact point to lhe crest o/ bone on the presence or absence of the interproximal dental papilla. 1 Periodontol 1992;63: 995-99ó.
Weisgold AS, Arnoux JP, Lu J. Single-tooth anterior implant.’ A word of caution. Part II. 1
Esthet Dent 1997:9:285 294.
Isidor F. Loss of osseointegration caused by occlusal load of oral implants. A clinical and radiographical study in monkeys. Clin Oral Implants Res 1996;7:143- l52.study.
Benzing U, Gall H, Weber H. Biotnechanical aspects of two different implant-prosthetic concepts for edentulous maxilla. Int I Oral Maxillofac Implants 1995;10: l 88-198.
Lundgren D, Laurell L. Biomechanical aspects of fixed bridge work supported by natural teeth and endossous implants. Periodontology 2000 1994;4:23 -40.
Rangert B, Krogh P, Langer B. Bending overload and implant fracture. A resprospective clinical analysis. Int I Oral Maxillofac Implants 1995;10:326-334.
Rieder C, Parel S. A surve y of natural tooth abutment intrusion with implant-connected fixed partial dentures. Int J Periodont Rest Dent 1993;4:335-347.
Kallus T, Bessing C. Loose gold screws frequentl y occur in full-arch fixed prostheses supported by osseointegrated implants after 5 years. Int I Oral Maxillofac Implants 1994;9:169-178.
Rangert B, Sullivan R, Jemt T. Load factor control for implants in the posteriar partially edentulous segment. Int 1 Oral Maxillofac Implants 1997;12:360-370.
Baumgarten H, Chiche G. Diagnosis and evaluation of complications and failures associated with osseointegrated implants. Compend Contin Educ Dent 1995;16: 814-823.
Carlson B, Carlson GE. Prosthodontic complications in osseointegrated dental implant treatment. Int I Oral Maxillofac Implants 1994;9:90-94.
Davarpanah M, Martinez H, Kebir M, Renouard F.Comp/ica/ions and failures in osseointegration. J Parodontol Implant Orale 1996;15:285-314.
Monbelli A, van Oosten MA, Schurch E, Lang NP. The microbiata associated with successful or failing osseointegrated titanium implants. Oral Microbiol Immunol 1987;2:145- 151.
Morgan MJ, James D, Robert MP. Fractures of the fixture component of an osseointegrated implant. Int J Oral Maxillofac Implants 1993;8:409-414.
Quirynen M, Naert 1, van Steenberghe D, Schepers E, Calberson L, Theuniers G, et at. The cumulative failure rate of the Branemark system in the overdenture, the fixed partial, and the fixed full prostheses design. A prospective study on 1273 fixtures. J Head Neck Pathol 1991;10:43-53.
Hemming KW, Schmidt A, Zarb GA. Complications and maintenance requirements for fixed prostheses and overdenture in the edentulous mandible.’ A 5-year report. Int 1 Oral Maxillofac Implants 1994;9:191 -196.
Norton Michael. Dental Implants — A ruide for the General Practictioner . Quintessence Books.
Tolman DE, Laney WR. Tissue-integrated prosthesis complications. Int J Oral Maxillofac Implants 1991;7:477-484.
Jemt T, Lekholm U. Oral implant treatment in posterior partially edentulous jaws. A 5-year follow-up report. Int I Oral Maxillofac Implants 1993;8:635-640.